Polícia Civil do Ceará desarticula esquema criminoso de tráfico de drogas, milícia e extorsão

10 de novembro de 2017 - 11:35

 

 

A Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) desarticulou um esquema criminoso arquitetado para prática de extorsões, roubos, tráfico de drogas e constituição de milícia, entre outros delitos, na região do município de Boa Viagem – Área Integrada de Segurança 15 (AIS 15) do Estado. Os trabalhos de investigação, desenvolvidos pela Delegacia Municipal local, levaram às prisões de nove pessoas (entre elas um policial militar) suspeitas de participarem da teia criminosa. As capturas se deram na manhã dessa quarta-feira (08), durante a “Operação Overdose”, que também resultou nas apreensões de nove armas de fogo e R$ 12 mil, entre outros materiais. O resultado do trabalho foi apresentado, nesta manhã (09), em coletiva de imprensa, no Complexo de Delegacias Especializadas (Code), em Fortaleza.

A “Operação Overdose” (nome dado em alusão ao motivo do início dos trabalhos policiais: combate ao tráfico de drogas) foi deflagrada como resultado do trabalho de investigação, que durou quase um ano – iniciado em dezembro de 2016. A ação da manhã de ontem contou com a atuação de cerca de 80 policiais civis de várias delegacias dos Departamentos de Polícia do Interior (DPI) Norte, de Polícia Especializada (DPE) e de Polícia da Capital (DPC) da PCCE. A força tarefa se deu em cumprimento a 12 mandados de prisão preventiva (sendo quatro contra pessoas já encarceradas) e 16 mandados de busca e apreensão. Uma 13° pessoa foi capturada em flagrante.

 

 

De acordo com o delegado Tiago Martinez, da delegacia de Boa Viagem, as investigações foram iniciadas no sentido de apurar a ocorrência do tráfico de entorpecentes na cidade e em seus arredores. Mas, no decorrer dos levantamentos, a Polícia descobriu também a existência de uma organização criminosa que se concentrava no município e atuava em todo o Estado. Com dezenas de integrantes, o bando se articulava de acordo com as respectivas tarefas de seus membros, na prática não só do tráfico, mas também da associação para ele; organização criminosa; roubo; receptação; extorsão; no comércio ilegal, posse e porte de armas de fogo; homicídio; ameaça; divulgação de segredo; agiotagem; e constituição de milícia privada – o que levou à prisão de um policia militar cearense. O grupo é ainda responsável pelo ingresso de aparelho de telefonia celular em estabelecimento penal, o que também é crime, com base no artigo 349 do Código Penal. Existem indícios de que os presos possuem ligação com criminosos de outros estados do Brasil.

O policial militar envolvido no esquema e preso durante a operação é o cabo Eliardo Ferreira Maciel, lotado em Boa Viagem. Sua função no bando era chefiar uma milícia privada, que cobrava uma espécie de “taxa de proteção” a comerciantes locais contra possíveis delitos, coagindo os empresários. Ele era o responsável por fazer contato com as vítimas, bem como coletar os valores cobrados. Além disso, o militar exigia quantias em dinheiro para a recuperação de motocicletas roubadas. De acordo com o delegado Marcos Aurélio, diretor do DPI Norte da Polícia Civil, se alguém se recusasse a pagar as quantias a Eliardo, ele acionava assaltantes para cometerem roubos contra as vítimas. O homem ainda foi flagrado negociando a receptação de produtos roubados.

Eliardo é suspeito de praticar os seguintes delitos: tráfico e associação para o tráfico de drogas; organização criminosa; constituição de milícia privada; agiotagem; comércio ilegal de arma de fogo; extorsão; e receptação. O mandado de prisão contra o cabo, assim como contra os outros, foi solicitado pela Polícia Civil e cumprido com o apoio de equipes da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Estado do Ceará (CGD).

Os outros mandados de prisão foram cumpridos pelos policiais civis contra Iramilton Gomes dos Santos (31), conhecido como “Japonês”, apontado como chefe da organização criminosa; Ednaldo de Souza Araújo (28), o “McQueem”, que atuava como executor dos roubos furtos e receptações praticados pelo bando; Antônio Jadson Viana Rodrigues (24), conhecido como “Naer”, que responde por ameaça e homicídio; Deusimar Martins Rodrigues (23); Fernando Vitor Campelo (29), que responde por homicídio e crime de trânsito; Otávio Rodrigues de Souza (30), que responde a porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e é apontado como um dos traficantes mais ativos; Renê Gomes de Sousa (19), que responde por porte ilegal de arma de fogo e acompanhava o cabo Eliardo nas extorsões aos comerciantes; Jonatas Fragoso da Silva (25), o “Lão”, que responde por porte ilegal de arma de fogo e receptação; Lucas Batista Bezerra (18), que também foi reconhecido por uma ocorrência de tentativa de latrocínio e responde pelo delito e por porte ilegal de arma de fogo; Lucas Costa Damasceno (21), o “Lukinha”; e Gleidson Lopes de Lima (19) – ambos sem passagem pela Polícia – reconhecido por um roubo articulado pelo grupo. Os três primeiros citados tiveram os mandados cumpridos nas respectivas unidades prisionais onde já se encontram presos. Uma mulher, identificada como Lídia Soares de Freitas Torres (21), foi interceptada em flagrada com drogas. Alguns dos 12 também tiveram prisões em flagrante, ao serem capturados com algum material ilícito.

Ao todo, com os infratores, os agentes de segurança apreenderam nove armas de fogo, cinco revólveres e quatro Pistolas; oito carregadores de pistolas; centenas de munições de calibre 38 e ponto 40; aproximadamente R$ 12 mil; diversos telefones celulares, computadores, móveis de origem ilícita e documentos; além de 10 gramas de cocaína. “Em meados de agosto deste ano, com o apoio do Ministério Público, nós conseguimos iniciar a operação, com o deferimento de mandados de prisão preventiva e busca e apreensão, executados na data de ontem (…). É uma organização criminosa bastante atuante, organizada, que permeia todo o estado e o sistema penitenciário”, destaca o delegado Tiago Martinez.

Ao longo das apurações, a Polícia também descobriu a atuação de outros criminosos, que contribuíam de forma indireta para a existência do grupo desarticulado, com o fornecimento de armas, drogas, e auxílio nas atividades ilícitas. As investigações continuam no sentido de prender outros envolvidos e de inibir os delitos na área. Os procedimentos policiais foram realizados na delegacia de Boa Viagem, pelos delegados Tiago Martinez, Lucas de Castro Beraldo, Tatiane Macedo, Caio Xavier e Fernando Moreto.